Demerval Peixoto: o fidelense que disputou uma Olimpíada e governou Pernambuco

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Demerval Peixoto, o primeiro da frente, na cerimônia de abertura das Olimpíadas de 1920. | Foto: Tiro Flu.

Nesta sexta-feira (05.08), acontece no Maracanã a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio-2016. Uma das cidades que recebeu o revezamento da Tocha Olímpica, no último domingo (31.07), São Fidélis já teve participação direta em uma Olimpíada, tendo um representante na delegação brasileira de 1920, o militar Demerval Peixoto. A história já foi contada no SF Notícias, que decidiu relembrar o feito nesta data histórica. Confira:

A primeira edição dos Jogos Olímpicos aconteceu em 1896, na cidade de Atenas, na Grécia. Hoje tradicional nas disputas e sede da Olimpíada atual, o Brasil só foi ser representado pela primeira vez no ano de 1920, quando os Jogos já estavam em sua sétima edição. Naquele ano, 21 brasileiros, todos homens, viajaram para a Autuérpia, na Bélgica, que ainda estava devastada pela recém encerrada Primeira Guerra Mundial, em 1918. Entre os brasileiros estava um fidelense, que vivia o auge de sua carreira como atleta e anos depois viria a ser um renomado político.

Demerval Peixoto nasceu em São Fidélis, no dia 11 de dezembro de 1884, filho de Joaquim Peixoto Filho e Ana Valentim Peixoto. Aos 36 anos, o Tenente Demerval fazia parte da equipe de revólver da Seleção Brasileira de Tiro Esportivo. Quatro anos antes, ele estava na Região do Contestado, entre Paraná e Santa Catarina, no Sul do Brasil, participando da Guerra do Contestado. Como registro deste acontecimento, deixou três edições do livro “Campanha do Contestado – episódios e impressões”: “Raizes da Rebeldia”, “O Cerco e a Retirada” e “A Grande Ofensiva”. Mas em 1920, Demerval e os outros seis atiradores brasileiros que estavam em Autuérpia não eram mais apenas guerrilheiros, mas sim os heróis do esporte nacional.

Apesar de também contar com representantes de natação, pólo aquático, saltos ornamentais e remo, o Brasil tinha como carro-chefe mesmo o tiro esportivo, que consequentemente traria três medalhas para casa. Porém, a trajetória não seria fácil. Demerval e seus compatriotas embarcaram para a Bélgica no dia 1º de julho, a bordo do navio Curvelo, em nome da Confederação Brasileira de Desportos (CDB), mas arcando com suas próprias despesas. Durante a viagem, na terceira classe, eles dormiram no chão do bar. E quando fizeram uma parada na Ilha da Madeira, em Portugal, foram informados que só chegariam à Autuérpia duas semanas depois do começo das provas. Sem outra opção, tiveram que seguir viagem em um trem com vagões abertos, debaixo de “chuva e sol, poeira e carvão”.

Os problemas estavam só começando. Ao passarem pela alfândega, os atiradores brasileiros tiveram suas armas e munições confiscadas. No bom e velho jeitinho brasileiro, cada atleta conseguiu guardar uma arma, mas acabaram sendo roubados ao chegarem em Bruxelas. Quando enfim alcançaram a Autuérpia, restavam apenas uma arma e 200 balas de calibre 38, enquanto cada um precisava de 75. Por chegarem em cima da hora, os atletas ainda tiveram que ir a pé para o local de treinamento, o Campo de Baverloo, e ficaram nos piores alojamentos.

Seleção Brasileira de Tiro nas Olimpíadas de 1920. | Foto: Livresportes.
Seleção Brasileira de Tiro nas Olimpíadas de 1920. | Foto: Livresportes.

Mas a sorte mudaria de lado dali em diante. Por causa do roubo, os atiradores receberam do Ministro Barros Moreira uma quantia de 2.000 francos para comprar armas e munições. Mas nem precisaram, pois fizeram amizade com os americanos Alfred Lane e Raymond Bracken, que os presentearam com mil cartuchos, mil balas de calibre 38 e 50 alvos. Os brasileiros também ganharam duas armas novas do Coronel Snyders, do Exército dos EUA, pois a que sobrou era muito ruim. As armas dadas por Snyders haviam sido fabricadas exclusivamente para os atletas americanos.

A equipe brasileira da pistola, formada por Sebastião Wolf, Dario Barbosa, Guilherme Paraense e Afrânio da Costa somou 2264 pontos e conquistou o bronze na distância de 50m, a mesma em que Alfrânio da Costa faturou o bronze no individual. Já com o revólver, Guilherme Paranaense fez 274 dos 300 pontos possíveis e foi o campeão, garantindo o primeiro ouro brasileiro. O fidelense Demerval Peixoto não subiu ao pódio, mas fez parte da campanha de quarto lugar do time do revólver, que totalizou 1261 pontos. No quadro geral de medalhas, o Brasil terminou as Olimpíadas de 1920 em 15º lugar.

26 anos depois daqueles Jogos, em 1946, o comandante militar Demerval assumiu o posto de Governador do estado do Pernambuco, na condição de interventor federal, ficando até 1947. A data de sua morte não é conhecida. Hoje, em São Fidélis, a única lembrança pública do ilustre “filho” é a Rua Demerval Peixoto, no bairro Barão de Macaúbas – muito pouco para quem rompeu barreiras representando o nome de nossa cidade e nosso país.

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