Mezze em Lisboa: muito mais que um restaurante

Atualmente, com a facilidade de deslocação um pouco por todo o mundo as culturas mais pequenas acabam se espalhando e chegando a todo o lado e é inegável a influência que isso tem não só na cultura mas também na vida social dos países que alcançam.

Dando um exemplo disso mesmo basta considerar que sabores e hábitos altamente apreciados e praticados por todo o mundo apenas foram possíveis devido a esse crescimento e diversificação cultural, ou seja, a gastronomia no geral. O café, as especiarias, diversos tipos de arquitetura e por aí em diante. Muitas vezes esses processos acontecem de forma natural e com adaptações suaves mas, de outras vezes, situações econômicas e políticas forçam a que essas mudanças ocorram de forma mais rápida e pouco natural que o previsto. Felizmente a natureza humana é bastante adaptável e consegue fazer o melhor de situações menos boas e assim surgiu o caso que vamos falar em seguida.

Em 2015, no auge da guerra civil na Síria centenas de milhares de habitantes fugiram e procuraram refúgio em diversos locais na Europa, um dos quais o nosso conhecido Portugal. Para facilitar a integração desses refugiados, a associação “Pão a Pão” decidiu desenvolver um projeto pioneiro e criou um restaurante no Mercado de Arroios, zona histórica em Lisboa, tornando assim possível que os diversos refugiados pudessem continuar tendo acesso às suas habituais refeições e tradições, ao mesmo tempo que lhes oferecia a possibilidade de ter um trabalho e de se integrarem numa sociedade completamente diferente. A verdade é que por felicidade do destino, após um trabalho de várias décadas, a partir de 2015/2016, Lisboa passou a ser considerada como uma das cidades mais turísticas e acolhedoras da Europa, o que abriu enorme curiosidade e interesse para a abertura do primeiro restaurante Sírio no país. O sucesso foi de tal forma grande que já esse ano o Congresso dos Cozinheiros atribuiu, pela primeira vez, o prémio de Figura do Ano na Gastronomia onde o restaurante Mezze foi eleito pelo forte contributo social prestado à gastronomia Portuguesa. No restaurante começaram por trabalhar 12 refugiados e agora são já 15 que pretendem ainda duplicar esse número abrindo um restaurante igual no Porto. Serviço de take away e catering e aumento do cardápio foram uma demanda dos clientes que não conseguem ir apenas uma vez provar diversos sabores exóticos do Médio Oriente e assim podem provar a comida sem ser apenas no restaurante.

Ora essa é uma prova que não só a integração de refugiados pode ter um impacto importante num país, como revela a importância da diversidade cultural e, também, de como uma cultura sofre influências de outras em qualquer momento por diversos motivos. Essa diversidade cultural enriquece um país e a sua própria cultura de uma forma que não podemos menosprezar. Se pensarmos em culinária então é muito difícil encontrar uma cultura fechada, se é que ainda existe alguma verdadeiramente. Novas especiarias, novas maneiras de preparar alimentos, novas partes de alimentos, novas porções, novas receitas, misturas que à partida parecem descabidas mas que se complementam na perfeição só são possíveis devido a essa partilha de experiências e todo o mundo vem beneficiando disso mesmo. O sucesso do restaurante Mezze em Lisboa é a prova de que o mundo está aberto para conhecer um pouco mais de tudo, inclusive de zonas que à partida não considerariam por diversos motivos.

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