Militar francês cita São Fidélis em dicionário geográfico e histórico do Império do Brasil

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Fotos: SF Notícias

J.C.R. Milliet de Saint’Adolphe, militar francês, chegou ao Brasil em 1816. Meu colega e ex-aluno Renato Pinto Venâncio, de origem campista e hoje professor da Universidade Federal de Minas Gerais, acredita que ele nasceu em 1789. Viveu 26 anos no Brasil e voltou para a França em 1842 com os originais de uma obra resultante de paciente pesquisa na Biblioteca Imperial do Rio de Janeiro, atualmente Biblioteca Nacional, e viajando por todo o Brasil.

Os originais deixados por ele foram traduzidos para o português por Caetano Lopes de Moura, editando-os em Paris em 1863. Assim, veio a público no Brasil o “Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil”. O autor mostra para o pesquisador dos dias de hoje uma geografia que não mais existe em diversos lugares do país, bem como fala de núcleos urbanos que desapareceram. Até mesmo o mapa do Brasil era outro. A obra foi reeditada recentemente por iniciativa da Fundação João Pinheiro e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com atualização da ortografia e das informações.

Tenho a primeira edição em português. Claro que existem muitas imprecisões. Afinal, não havia trabalho coletivo como hoje. O autor coloca no dicionário muito da sua subjetividade. Os futuros pesquisadores deverão falar o mesmo das nossas obras. Mas isso não lhe tira o mérito de ter sido primeiro grande esforço de reunir informações de todos os rincões do Brasil. São Fidélis figura nele com certo destaque, ocupando 46 linhas.

Foto%20Alde_O autor diz que São Fidélis é uma aldeia de índios coroados situada a dez léguas de Campos. Os missionários italianos Ângelo Maria de Luca e Victório de Cambiasca, com a mão de obra indígena, ergueram uma igreja em estilo toscano, com um zimbório octogonal com 33 palmos (um palmo igual à cerca de 22 centímetros) em quatro faces e 2 palmos nas outras. O edifício é majestoso e talvez único no Brasil, edificado inteiramente segundo as leis da arquitetura, observa o autor. Ainda acompanhando o verbete, a construção da igreja tomou dez anos. Em 23 de abril de 1809, ela foi inaugurada no lugar da capela de São Fidélis, sob cuja invocação foi consagrada.

O material usado na sua construção foi um tipo de barro sujeito às intempéries. Ela pode servir de modelo a obras futuras do Brasil, destaca ele, embora se situe numa modesta aldeia de índios. Uma resolução de 3 de fevereiro de 1824 separou São Fidélis do Distrito de Campos e o anexou a Cantagalo. Contudo, em novembro do ano seguinte, voltou a ligar-se a Campos.

Uma lei provincial de 2 de abril de 1840 elevou a igreja à categoria de paróquia, dando-lhe o nome de São Fidélis de Sigmaringa. Em 1843, criou-se nessa nova freguesia uma escola de primeiras leituras para meninos. A economia local era baseada na agricultura e no corte de madeiras. sao fidelis antiga 6A navegação no Rio Paraíba do Sul é interrompida, nas suas vizinhanças, por um salto com dez braças (uma braça igual a 2,20 metros) de altura.

Das informações registradas por J.C.R. Milliet de Saint’Adolphe no seu dicionário, contamos ainda com a igreja matriz e com o salto. São Fidélis é hoje uma cidade sem índios, sem florestas e sem navegação de vapores. Que os historiadores fidelenses discutam as informações do autor do dicionário.

Este artigo foi escrito pelo ambientalista Arthur Soffiati

igreja matriz 1

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