Poema do fidelense Thiago Yuri será apresentado em sarau da Bienal da UNE, na Bahia

Thiago já participou e foi premiado em vários eventos literários; Outro jovem de São Fidélis também teve uma poesia selecionada para a Bienal
Fotos: Arquivo Pessoal

O fidelense Thiago Yuri também levará o nome de São Fidélis à Bienal da União Nacional dos Estudantes. O evento chega a sua 11ª edição celebrando 20 anos de existência com uma volta às origens, na capital da Bahia, Salvador. Pela primeira vez as três entidades estudantis: União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) se somam em um grande evento, o Festival dos Estudantes, o maior encontro estudantil da América Latina.

O poeta, de 22 anos, já é conhecido no município por suas participações e premiações em várias edições do Festival Aberto de Poesia Falada. Thiago conta que também já participou de outros eventos como a Bienal de Campos, Café com Letras do IFF de Bom Jesus, Semana Cultural São Fidélis, FLISF, mas que é a primeira vez que participa de uma Bienal da UNE.

“Me sinto infinito. Acredito que seja um reconhecimento pelo trabalho poético e também vejo como uma forma de incentivo. De saber que estou no caminho certo” – disse ao SF Notícias. O poema selecionado, “Dom Quixote”, faz parte do livro publicado por Yuri. Do livro, o poema foi selecionado para apresentação no sarau, que também terá a poesia do fidelense Júnior Persí.

Segundo Thiago, seu poema fala sobre a perda. “É uma narrativa sobre morte com alusões a obra de Dom Quixote e a literatura bíblica. A inspiração foi minha experiência pessoal com a perda” – conta. Mas não é só sobre esse assunto que ele escreve. “Eu não tenho uma temática específica. Escrevo sobre a vida e tudo que nela há. Amor, ódio, alegria, tristeza, saudade, injustiça, justiça… Acredito que os poemas que mais se destacam sejam os poemas de cunho social, mas não me limito ao tema” – relata.

Em entrevista ao SF Notícias em 2015, após um vídeo em que ele recita o “Poema Crespo” ter feito sucesso nas redes sociais, o jovem relatou que descobriu que realmente fazia poesia com 14 anos, quando já tinha um volume extenso de escrita. “A Academia Fidelense de Letras fez um evento na praça, e a professora pediu para eu representar a escola, o Barão de Macaúbas. Então eu levei um poema, li, o pessoal gostou, aplaudiu, e me perguntaram a autoria, quando eu disse que era meu. Daí disseram que eu tinha talento, começaram a me incentivar, me chamaram para as reuniões. Logo depois eu fui para a sala de ensaio, conviver melhor com a poesia. E dali que eu comecei a, realmente, desenvolver e entender a importância da poesia. Me descobri poeta, vamos dizer assim” – contou.

Thiago pegou a estrada rumo ao evento nesta quarta-feira (06/02), junto ao fidelense Júnior Persí, ambos alunos do curso de Letras do Instituto Federal Fluminense. Dois jovens que ajudam a manter o título de “Cidade Poema”, que a cada dia vem revelando novos talentos, seja na arte, esporte ou literatura. Confira na íntegra o poema “Dom Quixote”.

Dom Quixote

Dragões.
Eu pensava que eram dragões,
eu imaginava muitos dragões,
e no caos daquela tempestade,
não havia nenhum Sancho Pança
para dizer que eram apenas moinhos de vento.
E não eram.
Eu não gritava por Dulcinéia, e sim por mamãe,
que era minha única e verdadeira amada.
Era noite em mim,
e a loucura do dom de amar transbordava no que sou.
Dom Quixote,
dom que dói,
dor que tenho,
dom que é dor.
Era o princípio da santa semana
quando ela foi
para o hospital,
a segunda era fria,
a terça feia,
a quarta fera,
a quinta feria
e a sexta paixão.
Mamãe se foi
no mesmo dia da morte
de Cristo Jesus
que do seu mundo era luz,
e do meu mundo tirou a luz.
Era a terceira hora do dia,
o exato momento certo,
hora da divina misericórdia para nós
e para o mundo inteiro.
O dia virou breu
e santificado foi o nome daquela que nunca foi santa.
E mesmo aqui em outro reino,
Farei com que seja feita a sua vontade.
Já era sábado
e os arcanjos cantavam
aleluia, aleluia, aleluia
o sepulcro vazio,
o meu peito vazio
e um caixão com seu corpo frio
coberto de flores que ela nunca quis.
E no domingo de Páscoa que é dia da ressurreição,
ela subiu ao mais alto céu na crença de que para sempre viverá no estágio privilegiado dos que conseguiram purificar sua alma.
Hoje eu passo no calvário de Cristo,
e levo comigo as chagas de um simples mortal vivo
Que carrega o fardo da vida,
chora sangue
e delira de dor.
Dor que não passa
Dor que o tempo não cura, pois nesse caso, curar dói mais do que deixar doer.

Thiago Yuri

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