Poesia de fidelense é selecionada para a Bienal da UNE, maior encontro estudantil da América Latina

A 11ª edição do evento acontecerá em Salvador, na Bahia; A poesia será apresentada durante a Mostra de Literatura, nesta sexta
Fotos: Arquivo pessoal

Berço de grandes poetas, São Fidélis continua revelando artistas a cada dia, parte de uma nova geração que ajuda a manter o título de Cidade Poema. Antonio Roberto P. da S. Júnior, mais conhecido como Júnior Persí, de 24 anos, é um desses talentos. Ele teve uma poesia selecionada para a Bienal da União Nacional dos Estudantes, que acontecerá neste final de semana na capital da Bahia, Salvador.

Aluno do 6º período do curso de Letras, do Instituto Federal Fluminense (IFF), o fidelense soube do evento através do Centro Acadêmico de Letras, do qual faz parte. “Desde o finalzinho do ano passado estamos tentando botar uma condução para essa viagem. Isso porque a Bienal da UNE é um evento importantíssimo tanto para a arte quanto para a política. É a Bienal mais importante do país! No meio dos trâmites da viagem, precisei seguir página e perfis da UNE para que eu pudesse me informar e passar informações aos demais alunos do IFF. Em um determinado ponto, eu vi que eu poderia me inscrever como artista” – conta o estudante ao SF Notícias.

Ele se inscreveu pelo site do evento e enviou dois contos e uma poesia. Júnior explica que geralmente só um trabalho é selecionado pela UNE para fazer parte da mostra de Literatura, e de fato só a poesia foi selecionada. “O que para mim já é uma imensa surpresa, pois milhares de trabalhos são enviados e só uns 40 trabalhos foram selecionados na categoria Literatura. Desses 40 trabalhos, pouquíssimas poesias foram selecionadas” – relatou.

Júnior Persí conta que escreve desde a pré-adolescência, mas sempre foi visto como azarão, tanto na escola quanto na faculdade. “Minhas obras nunca foram bem aceitas porque eu sempre rompi os limites para tentar fazer algo novo, único, e com minha cara. Por isso ter o reconhecimento da UNE vale duas vezes para mim, pois eu ouvi ‘não’ a minha vida inteira e justamente a Bienal mais importante do Brasil selecionou uma obra minha” – afirma. 

A poesia selecionada é intitulada “Amnésia Reversa”, ela fala sobre a dor de ser esquecido por quem se ama e não conseguir esquecer da mesma forma. Sobre a inspiração para escrevê-la, o autor revela que seu processo criativo é um verdadeiro caos e que é influenciado pela estética Simbolista.

“O Simbolismo é bem melancólico. Mas creio eu que a melancolia seja um sentimento pertencente a todos. Mais presente em alguns, menos em outros. Então, por isso que o meu processo criativo é um caos. Eu tenho que entrar em contato com momentos traumáticos, com momentos de abandono, deserto e melancólicos para criar arte. É um sacrifício necessário. E é algo que me faz muito bem! Ao mesmo tempo que é doloroso regressar a momentos que desejo que nunca mais voltem, também funciona como uma certa cura. Só de ver que toda dor causada em mim se transformou em arte, isso já lava a minha alma. Eu não estaria indo para Salvador se não fosse toda a dor transformada em arte. Não sou só triste artisticamente falando, mas sou sempre marginal. Gosto de falar sobre o lado negro do ser humano. Das drogas, do sexo, do álcool, da corrupção” – explica.

Apesar de achar que nunca se encaixou bem na cidade, por conta do seu jeito diferente, Júnior afirma: “Isso só me preparou para o batalhão de gente lá de fora que não consegue me entender. Ao mesmo tempo que São Fidélis me deu um certo sentimento de não pertencimento, também me treinou para que eu não tivesse medo de ser diferente. Hoje em dia há quem admire e entenda esse meu jeito em São Fidélis. E, sinceramente, eu não ligo para nada disso… E tento passar isso para quem convive comigo. Dê ouvido às pessoas que você respeita, que você ama, que entendem você! Para aqueles que não se encaixam nesses quesitos, aja como se as palavras deles nem existissem”.

Ainda assim, o jovem revela amar a cidade, ele conta que seus melhores amigos são daqui e que São Fidélis marcou sua história, além de abrir diversas portas ao longo do tempo. Júnior diz ainda que não tem vontade de sair daqui. “E eu acho que eu não teria me impulsionado no mundo da escrita se não fosse a Cidade Poema. Meu nome de batismo é Antonio Roberto. Sou xará do maior poeta fidelense. Desde que eu era criança eu ouço meus professores falando que eu tenho nome de poeta… Isso me influenciou muito. Já contei sobre isso na faculdade”. Segundo o poeta, ele está levando uma São Fidélis diferente do que as pessoas são acostumadas a ver, mais diversa.

Apesar de haver premiação, o fidelense afirma que a maior vitória é ir ao evento. “Por mais que tenha uma premiação para o primeiro lugar, já é um prêmio os selecionados terem suas obras publicadas no livro oficial da Mostra de Literatura da UNE. É algo… nem sei descrever tamanha grandeza”. O Sarau Literário da UNE acontecerá na sexta-feira (08) às 17 h, mas o jovem pega a estrada nesta quarta (06), com a mala transbordando de felicidade e amor pela arte. Confira mais poesias do fidelense em sua página no Facebook AQUI.

Amnésia Reversa

Autor:
Antonio Roberto P. da S. Júnior
(Vulgo Júnior Persí)
Categoria: Poesia

Eu me lembro de tudo muito bem
Ao contrário de você que vive sem
Conseguir lembrar-se de nada
Enquanto eu sempre lembrei cada data

Lembrei a você e a mim
Porque nossa vida era assim
Era bom lembrar dos dias
Eram boas nostalgias

Agora lembrar de tudo que era bom faz mal
Queria que o passado se tornasse banal
Mas ele ainda é muito presente
Eu sempre fui a pessoa que mais sente

Não sei se sinto o que penso
Ou se o amor ainda é imenso
Só sei que não esqueço
E que ser lembrado, mereço

Mas você me esqueceu
E esqueceu tudo que sou eu
Eu já esperava seu esquecimento
Só não esperava viver esse lamento

Que é lembrar de quem esquece
Não esquecer quem não merece
Sempre me orgulhei de ter memória boa
Hoje só quero que cada memória morra

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