Rodovia São Fidélis – Campos: uma estrada ecológica

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Fotos: Aristides Soffiati / Larissa Cesário/ Vinnicius Cremonez

Quando o príncipe naturalista alemão Maximiliano de Wied-Neuwied, indo do Rio de Janeiro para Salvador, em 1815, há exatos duzentos anos, passou por Campos e foi a São Fidélis, não havia estada de ferro nem de rodagem. Existia apenas uma caminho e terra com algumas pontes em meio a uma natureza luxuriante e encantadora. O príncipe registrou seu encantamento pelo trajeto em seu diário de viagem do qual comprei a primeira edição de 1820-21 em dois volumes só pelo prazer de sentir o peso da ciência que emana da obra e o cheiro de antiguidade que exala de suas páginas, embora tenha a edição brasileira e não leia em alemão.

O engenheiro Henrique Luiz de Bellegarde Niemeyer percorreu esta trilha e deu, em 1837, informações preciosas sobre seu estado de conservação e as obras necessárias a serem feitas para melhorar seu trânsito. Desde de tempos muito antigos, esta estrada é usada para a circulação entre litoral e interior, do Rio de Janeiro, de Campos, de Friburgo para a zona de Minas Gerais. Em meados do século XIX, Hermann Burmeister, outro naturalista alemão, veio do Rio de Janeiro em direção a Mariana, passando por Friburgo e subindo a estrada que levava ao interior pela margem esquerda do Rio Pomba. Esta viagem merecerá um artigo futuro.

rio paraíbaEmbora muito adulterada nos dois séculos após a excursão científica de Maximiliano, a estrada entre São Fidélis e Campos ainda conserva seus encantos, reconhecidos pelos que passam por ela em tempos de cheias e estiagens. Houve desmatamento, erosão, assoreamento e poluição. Aproveitando a trilha, primeiro rio paraiba do sul rtconstruiu-se a ferrovia. Mais tarde, a estrada foi asfaltada e se transformou na RJ 158.

Quem sai de São Fidélis rumo a Campos já encontra na cidade monumentos naturais e culturais dignos de apreciação. Chamam a atenção pilares da antiga ponte, a ponte ferroviária, a antiga ponte Obras da Ponte Metálica Foto Vinnicius Cremonez 6rodoviária, a Igreja Matriz, o solar do Barão de Vila Flor, o Paço Municipal, o prédio da Vila Libanesa e o Mercado Municipal.

Tomando a rodovia, que acompanha a margem direita do Rio Paraíba do Sul, do início ao fim, o viajante encontra belas paisagens naturais que convidam à mercado municipalcontemplação. Nesse trecho final, o Paraíba do Sul corre ainda na zona serrana até a localidade de Itereré. Daí em diante, seu curso se bifurca em quatro braços, formando um delta. Dos quatro, apenas dois restaram: o canal principal do rio, que desemboca no Oceano Atlântico, em Atafona, e os canais que correm para a Lagoa Feia.

Ao longo de RJ-158, o viajante corta os Rios Pedra d’Água e do Colégio, além de diminutos ecossistemas aquáticos.

rio do colégio 7

No âmbito da zona serrana, outras belezas cênicas surpreendem o viajante, como a Serra do Sapateiro e o Morro Peito de Moça. Já na planície, estão a bela Fazenda da Pedra, a sede da desativada Usina Santa Cruz e alguns prédios mais.

Com uma ferrovia e uma rodovia cortando tão belas paisagens, o usina santa cruztrecho do Rio Paraíba do Sul entre São Fidélis e Campos bem merece receber proteção especial. Esta proteção não seria especificamente para a RJ-158, mas para o conjunto do rio, da ferrovia e da rodovia. A figura do Parque não é a melhor porque ele exige a proteção integral de certas partes. Nesse conjunto, parece não haver mais trechos fazenda da pedrainteiramente preservados, pois o desmatamento foi inclemente. A ele, seguiu-se forte erosão e assoreamento. Além do mais, a poluição assola o rio quase da nascente à foz. Embora um pequeno desnível em São Fidélis e outros acidentes geográficos aerem as águas, nesse trecho, elas estão inseridas na classe 2, numa escala que vai de 1 a 4.

Pelas características das três vias (fluvial, ferroviária e rodoviária), parece que sua proteção deveria ser feita por alguma figura da categoria de Unidades de Uso Sustentável, e não pela categoria de Unidades de Proteção Integral. A Área de Proteção Ambiental (APA) se ajustaria bem ao conjunto, por estar ele já muito alterado e por não exigir desapropriações. Situando-se em dois municípios, a criação da APA caberia ao Estado do Rio de Janeiro, assim como reflorestamento de nascentes e de margens dos cursos d’água em seu interior ou que se dirijam a ele, a reativação da linha ferroviária de São Fidélis-Campos-São Fidélis, melhorias na rodovia RJ-158, com mirantes em elevações adequadas e outros investimentos mais.

Ficam em suspenso duas questões: 1- o pedágio a ser cobrado pelo Estado nesse trecho, já que não seria justo cobrar pedágio de pessoas que se deslocam entre as duas cidades a trabalho ou por motivos frequentes. Quanto ao trem, sem dúvida, ele teria suas passagens cobradas. 2- a APA do Baixo Paraíba seria o primeiro passo para um conjunto maior que incluiria a RJ-216 (Campos-Farol), a BR-356 (no trecho Campos-São João da Barra), a RJ-196 (seção São Francisco de Itabapoana) e o antigo curso da ES-060. O conjunto receberia a denominação de “Caminhos de Wied-Neuwied” por ter o príncipe naturalista transitado por caminhos substituídos pelas estradas mencionadas, mas bem próximas às trilhas seguidas pelo nobre alemão.

Esse conjunto também faria parte do Geoparque Costões e Lagunas do Rio de Janeiro.

Esse artigo foi escrito pelo ambientalista Aristides Arthur Soffiati

 

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